Nery Porto Fabres
A mesmice no Brasil
Nery Porto Fabres
Professor
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Eu estava entrando em sala de aula quando percebi que estava sem o material de desenho (aqui me refiro a desenhos de projetos arquitetônicos: planilha de madeira, compasso, esquadro, lápis HB2, régua, etc.), e olha que são sou arquiteto e muito menos estudei engenharia, até porque não tenho aptidão para as Ciências Exatas. Mas, como aluno de quaisquer áreas das Ciências Humanas, sempre me entediava com algum professor que queria pregar política partidária em vez de dar aulas de sua disciplina e já ia preparado para fazer meus desenhos ao invés de ouvi-los.
Neste dia, ao pisar na sala, já com a mão ao trinco e a meia porta aberta, olhei o professor coçando a barba e inflando o peito para falar de política. Então resolvi dar um passo para trás, fazer meia volta e ir buscar meu valioso material.
Todos os professores sindicalizados e operantes, aqueles que saem à caça de votos sem nenhum constrangimento, têm a mesma fala, a mesma narrativa, a mesma falsa percepção do passado... E sempre invocam a ditadura militar para se vitimizarem.
O discurso tem o mesmo enredo, a mesma trama, o mesmo roteiro, a mesma introdução, desenvolvimento e conclusão. É a velha retórica de se dizer a mesma coisa sempre até se convencer que a mentira contada é uma verdade absoluta.
Formei-me em mais de uma área profissional e conheço o discurso, o analiso, o separo em frases de efeito, desmembro as técnicas de persuasão e faço o desenho de o que a política queria com aquele papo. O desenho sempre foi mais forte que o ofício escrito em letras garrafais do canudo que carrego à mão. Por isso sou contra diploma universitário, tenho plena convicção que a Educação no Brasil é pano de fundo para recrutar eleitores.
Neste País que aí está, a política partidária corrompeu tudo, e mostra que as alianças partidárias vão muito mais além que receptar votos furtados nas universidades.
As casas parlamentares, tanto a baixa (Câmara dos Deputados) como a alta (Senado Federal) são balcões de negócios e lá se encontram todos os líderes partidários para selarem acordos que agradem todas as siglas. Sim, os melhores investimentos para um político são negociar as aprovações de projetos de leis, de PECs (propostas de emendas constitucionais), as quais passam por mãos destes "homens do povo".
E, por saber disso, desenvolvi minhas habilidades em desenhar as construções partidárias, desenhar a história do Brasil, desenhar essas articulações entre os 513 deputados federais e os 81 senadores.
Portanto, entre um papinho chato de política e um assédio eleitoral escancarado eu traçava, com medidas e ângulos, o perfil dos professores, dos militantes, dos partidos e detalhadamente desenhava a política brasileira. E no domingo fui limpar meu baú do tempo. Nele tem de tudo, inclusive esses desenhos de outrora. São exatamente idênticos ao desenho da atual política brasileira. Impressionante a manutenção da mesmice no Brasil.
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